Autores: Daniel Libardi e Vinicius Andrade 

 

 

Toda crise é crítica, isso está na essência do processo de mudança. A crise modifica o habitual, impacta na rotina, desvia a rota, gera ruptura em elementos antes estáveis na vida das pessoas e da sociedade como um todo.  

Mas para os criativos até mesmo a crise é uma oportunidade. E que bom que seja assim, não é mesmo? Nesses casos, momentos de crise exigem que as expectativas sejam redesenhadas, não abandonadas. “Pegue a CRISE, tire o S e CRIE”, assim consideram os mais obstinados a adaptabilidade e inovação. 

Mas a pandemia do coronavírus, trouxe uma peculiar necessidade de isolamento social em plena era da conexão, e o sinal muitas vezes ficou fraco e instável. Impactou de forma global: no aspecto financeiro, no trabalho, elevou sentimentos de insegurança e medo, por vezes distanciando as pessoas do conforto mínimo necessário para esse processo criativo. 

Vieram sedentarismo, insônia, alterações alimentares. Uns aprenderam a fazer filho, outros aprenderam a fazer pão. Ansiedade, tensões e convívios mais intensos; para quem se desafiava estar junto um tempinho após o trabalho, aprendeu que separação as vezes é uma solução. Outros entraram intensamente nos solúveis, esquecendo a moderação. Fobia, pânico, obsessão; é difícil não conseguir controlar o que era uma certeza para você.  

A pandemia, de fato, colocou um espelho para muitas coisas, estampou retratos da sociedade, nas relações e refletiu com transparência na saúde das pessoas. O momento crítico vem contribuindo assim para uma preocupação diferenciada com a saúde. Seja quem adoeceu, seja quem se cuidou, passou a no mínimo saber que a saúde deve ser cuidada de maneira integral, envolvendo diversos fatores entre o físico e o mental.  

No âmbito da saúde física, se antes da pandemia, três a cada 100 mortes registradas no Brasil tinham influência do sedentarismo (Ministério da Saúde, 2017), estima-se que com ela está havendo um aumento considerável no desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, obesidade, infarto, AVC e problemas respiratórios, além de toda a patologia psicológica acumulada nos últimos tempos. Realmente não é todo mundo que “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. 

Mas o que faz então com que uma pessoa se cuide e a outra não? Por outro lado, resiliência o tempo todo é bom? No cenário empresarial, porque algumas indústrias conseguiram inovar e outras não? Essas dúvidas vêm inquietando toda a equipe de especialistas do Sesi em suas consultorias e percebemos que é importante, neste momento, distinguir alguns aspectos, facilitando neste primeiro momento o entendimento da percepção e cuidados em saúde.  

Inspira 

Momentos críticos sempre impactam no planejamento. Como falamos, há uma mudança repentina da rota e é justamente por este motivo que devemos parar alguns momentos e fazer revisões realísticas do nosso estado atual, pontos fortes e fracos, nossas possibilidades e metas possíveis e alcançáveis (sabendo que meta já alcançada não é meta). 

A resiliência é uma forma de flexibilizar, se adequar e adaptar-se a um novo contexto ou realidade. Todavia é fundamental primeiramente se conhecer e saber dos seus limites, pois continuando na ideia de resiliência, alguns momentos você pode na verdade não estar percebendo que as coisas não vão bem, que uma doença está se desenvolvendo e problemas estão sendo estocados. Logo a frente quem pode quebrar é você ou o seu próprio negócio. Resiliência não coexiste com negligência. 

Então inspire, faça o movimento para dentro de si, olhe para o aspecto interno, reconhecendo suas possibilidades e quais são suas fontes de saúde e de prosperidade (o que dá certo para você?). 

Respira 

A prática regular de exercícios físicos é fundamental para a manutenção da saúde, tanto física quanto mental. Já é comprovado que doses diárias de exercícios, mesmo que em curtos períodos de tempo, aliviam o stress, melhoram a qualidade do sono e a oxigenação cerebral, o que proporciona inclusive o melhor funcionamento cerebral. 

Do ponto de vista biológico, existem neurotransmissores que são liberados com a prática das atividades físicas, gerando benefícios diversos para todo o corpo. O exercício físico estimula o crescimento de novas células do cérebro, auxiliando nos processos de memória e tomada de decisão, combatendo processos relacionados a pensamentos e emoções negativas. 

A meta é estar sempre em movimento, dentro de suas possibilidades. A gente sabe que 150 minutos de atividade física semanal é uma boa indicação. Mas para você isso é adequado? Exercícios simples como caminhar, subir e descer escadas, movimentos com utilização do próprio peso corporal, por exemplo, podem contribui consideravelmente para a melhoria da saúde, de uma forma geral. Mas em alguns casos, a dificuldade em praticá-los pode estar relacionada a diversos fatores que precisam ser identificados, trabalhados ou até mesmo tratados por especialistas. 

Está tudo bem? 

Para quem está bem é fácil falar “Não pira!”. Você que pode oferecer ajuda, que tal mudar para um “Está tudo bem?”. É muito bom ter alguém que chegue do nosso lado e traga uma palavra de incentivo, não é mesmo? Mas muitas vezes precisamos entender melhor nossas questões, antes de seguir modelos externos. Dependendo do caso, a positividade pode até ser “tóxica”. O que deu certo para o outro, nem sempre vai dar certo para mim. Isso não significa que devemos deixar de ouvir as pessoas, pelo contrário, é sempre bom escutar e filtrar. Ao escutar eu me abro para novas experiências. Ao filtrar eu seleciono conscientemente o que pode dar certo para mim. 

Então lançamos uma proposta. Selecionamos algumas práticas simples que podem ser colocadas na sua rotina diária, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. Mas você, o que vai filtrar delas? Quais são as possíveis para você começar hoje e sustentar em seu dia-a-dia¿ 

 

  • Exercícios físicos regulares:  favorece a oxigenação cerebral, aumentando os níveis de endorfina, substância química que promove a sensação de felicidade, combatendo depressão, ansiedade e stress; 
  • Ginástica mental: estudar, se envolver com atividades que desafiem sua cognição e seu pensamento. Até mesmo jogos como caça-palavras, memória e palavras cruzadas são muito úteis para o funcionamento cerebral. 
  • Descanso mental: também é importante educar a mente a alcançar momentos de alto relaxamento. Atividades que façam você parar, relaxar e despressurizar, podem proporcionar o controle do stress e facilitar o autoconhecimento. Não só a meditação, mas uma atividade lúdica, uma leitura não técnica e outras atividades ao seu gosto podem ser muito benéficas; 
  • Organização: realizar várias demandas ao mesmo tempo parece ser interessante, mas produtividade não coexiste com adoecimento. Tente fazer uma coisa de cada vez. Atividades simultâneas, podem proveitosas em alguns momentos, mas sempre de forma organizada e ajustada a sua capacidade, habilidade e interesse;  
  • Ponderação: frente a situações tão revoltantes a ponderação se torna quase uma “arte”, não é mesmo? Mas não significa que ela é impossível. Ponderar é conseguir viver as situações, se envolver, mas não se deixar dominar por completo. Na ponderação conseguimos ver as situações por diferentes perspectivas, ajudando a compreensão, o entendimento e a fazer sempre melhores escolhas;  
  • Novidades: incluir experiências novas em sua vida pode ser bastante proveitoso. Praticar atividades diferentes, fazer novas receitas, passar a escutar outras músicas, conhecer novos lugares, fazer novos caminhos e novas amizades podem fazer muito sentido para você. 

 

Muito do que está aí, você já faz? Que bom! Multiplique ajuda! Se nada do que está aí se adequa a você, não se desespere. Comece com uma prioridade: perceba o que pode estar te incomodando mais e busque formas de lidar com esta questão. Ela deve ser prioridade para você.  

Devemos considerar por fim que alguns momentos são mais propensos ao adoecimento, seja na sociedade como um todo ou na vida pessoal, o que não significa que devemos nos ver apenas como vítimas, porque sempre há um espaço para uma autoria em nossas vidas. O que te trouxe até aqui afinal? Além disso, não existe um estado pleno de perfeito bem-estar físico e mental. Nossa saúde está sempre em um movimento dinâmico e transitório entre saúde e doença, e o que nosso papel nesse movimento é de constantemente perceber e agir, perceber e agir. Assim, encontramos nossas fontes de saúde e nos precavemos mais daquilo que nos adoece. 

 

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